quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Desmaterializando a obra de arte.

Desmaterializando a obra de arte no fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
Teu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
Caucado da revalorização da natureza morta
Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da gia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"
Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina
Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da siribrina
Desintegro o poder da bactéria.

Bienal - Zeca Baleiro


Esse desenho aí de cima, eu mesma fiz. Você achou bonito? Te fez pensar em quê? Tocou fundo no seu coração? Penduraria esse desenho na sala da sua casa? Não precisa dizer que gostou só para não me magoar. Eu sei que é horrendo, e não significa nada, nadinha. Ou melhor dizendo, para mim é uma carranca bêbada tentando beijar uma grávida com um vestido xadrez, presa num arame farpado, e eu juro q eu não pensei em nada disso para fazê-lo, eu simplesmente deixei a caneta deslizar no papel e saiu isso aí que vossos olhos presenciam. Eu poderia chamar a obra de: um nada em vermelho.

Acho que é assim que alguns dos artistas trabalham, ou pelo menos aqueles que não tem nada a dizer, fazem o que lhes dão na telha e pensam num significado obscuro depois, usando termos acima de qualquer suspeita no processo de convencimento no polêmico mundo das artes como: lúdico, representação do sonho através do surreal, arte de vanguarda, abstracionismo, traços minimalistas e toda essa conversinha que eles batem para a gente e engolimos, mesmo sabendo que na maioria das vezes é pura lorota.

Longe de mim dizer que arte é lorota, antes que os aficcionados por arte queiram que o teto da capela sistina caia sobre a minha cabeça, não é nada disso. Eu adoro arte, valorizo, respeito, e até me atrevo a fazer às vezes, mas como eu disse é polêmico. Quando eu era criancinha, na escola, tinha aulas de arte, e eu aprendi que arte é toda e qualquer forma de expressão humana. E eu entendo que todo artista se expressa como quer, mas e daí que a gente não entende o que vê ou não gosta? Posso até estar falando besteira sobre coisas que fogem ao meu entendimento, mas se eu não entendo, já não gosto, e se eu não gosto, não gosto mesmo.

Sexta-feira passada eu e uns amigos fomos à uma exposição na Galeria de Artes Antônio Sibasolly. O pai do Tiago, o Isacc Alarcão estava expondo seu trabalho fotográfico, muito bom por sinal, "Natureza em foco", no anexo da galeria e a exposição principal era de um curitibano que eu não me lembro bem o nome, e que nem importa, já que eu meio que vou detonar com o trabalho dele. Embora eu estivesse interessada em prestigiar as obras, confesso vergonhosamente que o que me chamou até lá foi a boca livre.

Duas mortas de fome e eu (então somamos três devoradoras de salgadinhos grátis), chegamos cedo, participamos das solenidades, ouvimos discursos e explicações prévias do que veríamos a seguir. Não sei se foi a fome que me fez delirar, mas eu estava achando lindo o falatório do artista, eu imaginei que a obra dele fosse uma "coisadelouco" de tão boa. Ele se supervalorizou, criou em mim expectativas, me iludiu. E o que sempre acontece quando criamos expectativas demais? Decepção.

Eu fiquei realmente brava quando eu entrei na galeria. Caramba, era um apanhado de desenhos muito bizarros, minimalistas, feitos com caneta bic ora azul, ora preta, ora vermelha, em papel chamex. "Não, esse papel é mais caro, não é chamex!" o Tiago disse. E daí? O cara usou um papel caro, que parece chamex pra desenhar riscos parecidos com o que eu fiz lá em cima com caneta bic.

Para não ficar tudo mais entediante do que já estava, eu comecei a brincar com as meninas de tentar adivinhar o que estava desenhado (alguns pareciam teste de Rorschach). Nos empolgamos vendo homens de pedra, cogumelos, óvulos sendo fecundados por espermatozóides, dentre outras coisas que não convém citar. Como toda boa goiana (só consegue ver "co as mão"), uma das meninas apontava os rabiscos, encostando o dedo no papel inocentemente. Eis que avisaram: "Não encosta, cada obra custa por volta de $600,00". O quê? Tá doido moço? 600 dinheiros pra comprar papel chamex rabiscado?

"Ops! Foi mal aí!"

Caso algo de errado tivesse acontecido com essas obras, nós teríamos que deixar o dedo lá como pagamento. E eu definitivamente não ia querer um desenho daqueles na minha casa. Desculpa Seu artista, mas era muito feio. Além de que, deveríamos saber que não existe no planeta comida grátis em abundância. Com toda a nossa finesse, estapeamos uns três cada uma por torradinha e entre palitadas de dentes discretas e gafes que acabam acontecendo por excessos cometidos por pessoas esfomeadas, saimos à francesa para encher nossos pandus dignamente e salvar a noite com um pouco de sinuca.



10 comentários:

  1. Eu sinto uma sensação muito parecida toda vez que entro num museu ou exposição de arte moderna.
    Então tampa de refrigerante colada numa cartolina branca representa a intolerância do homem moderno à efemeridade da vida?
    Comigo não, violão!

    Ainda bem que a sinuca salvou a noite!

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  2. Daqui uns dias a arte moderna consistirá na técnica inovadora de colocar tinta nas narinas e assoar em direção a um papel chámex caro!!haha!!

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  3. caramba, realmente tem desses abacaxis aí... eu ódio esses pseudoartistas que chamam qualquer borrão de "arte"... depois de tu apreciares um monet, um picasso, um dalí, ainda que seja apenas em figuras de livros (no meu caso hehehe) os significados expressos ou subentendidos em suas obras, olhar rabisco em papel chamex realmente torna-se hilário, apenas isso! e nem o rango compensou? aí ferrou-se de vez hahaha

    abs

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  4. Olha, a caixinha de comentário!
    Ia dizer que tenho um amigo que foi a uma "instalação" e, no meio da revolta com tudo aquilo, foi tomar um drink: pegou uma das taças que estavam em cima da mesa e chamou o garçon, quando fazia isso ouviu um grito. Ele tinha desmontado uma das "instalações" ehehehe

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  5. Esses tempos fui em uma exposição aqui onde moro, e cara tinha umas pinturas legaizinhas nada muito "oh que foda" mas tinha uns trabucos legaizinhos, e tinha um linda obra de plagio mal feito pra otario engolir, saca a capa do king for a day do faith no more? pois é a capa do album era um quadro e tipo eu sei que não foi o tal artista que desenhou a capa e chiei e falei alto e o cara tava atras de mim que quis discutir no final acabei falando alto e o cara acabou admitindo (problema que as outras 6 artes dele derivavam de pedaços da mesma capa) o cara ficou revoltado e se foi...

    dai tive que proverir "king fot a day, fool for a life time" SAHSAUSHAUSAHSUASHUASHAS
    acabando ainda mais com a vida do sujeiro e homenageando a obra digo capa do algum xD

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  6. Não foi bem algazarra porque não tinha muita plateia em volta só eu o "artista" e mais uns cinco curiosos na volta o resto estava em torno da boia gratis da bebida e das obras xD

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  7. De bowa, a única exposição que eu fui, entendi e gostei foi do Roy Lichtenstein [/rimou, droga!]. <333333333

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  8. eu dando meu pitaco de novo nao se encha de mim rsrsrs beijo do gordo ha e to te seguindo juro nao ser preguento odeio gordo preguento

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  9. ha e esqueci do pitaco era pra dizer do desenho analizando de foraa diria extranho mais assim q e bom extranho mesmo rsrsr

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  10. Desculpe mas não a conheço... Descobri os seu Blog, por indicação de um outro blog de uma amiga gaúcha.
    http://ninadelsur.blogspot.com/
    No entanto achei engraçado pois o seu coment sobre uma exposição abstrata de um suposto artista sobre chamex, é deveras parecido com outras situações que observei pelo mundo...
    Infelizmente o culto e apoio á arte no mundo, se abstrai da verdadeira essência a que se devia devotar... hoje qualquer debiloide que faz uns trémulos riscos... é um artista...
    Antigamente, e não foi á muito anos, o internariam numa psiquiatria para tratamento intensivo ... Hoje esse "cara" que se diz um artista, com direito a cocktail de recepção (e pelos vistos o tira gosto foi fraco)por ventura será que tinha dinheiro para comprar o papel correcto para desenhar as seus vómitos artísticos quando lhe veio a "dita" inspiração? Ou estaria no banheiro???
    Sou suspeito... pois não vi a dita obra....

    Mas sou solidário ao seu coment...

    Beijos...
    Luis Fortes
    (Português)

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