Mudanças

Lá vou eu mais uma vez, quarta mudança de casa em quatro anos. Sempre me causa uma certa ansiedade esse tipo de coisa, como tudo que é novo, espera-se que seja o acontecimento dos acontecimentos para coisas boas. Um novo lugar, uma nova fase, nova vizinhança, novas aquisições. Tem gosto de ano novo, é uma chance de recomeço, de fazer diferente do que sempre foi feito. É aquela sensação de caderno novo em início de ano letivo na escola, prometemos sempre que vamos ser mais organizados e fazer uma letra bem caprichada.
Mudança é um processo que requer planejamento, trabalho duro, paciência, desapego, força no muque ou dinheiro pra contratar alguém que faça o serviço sujo por você. Como essa última opção nem é uma opção eu me divirto com muitas caixas de papelão. Me perdendo no meio delas, às vezes percebo que eu perco muito mais. Quando o novo dá lugar ao velho, o velho tem que ir para algum lugar e é estranho como certas coisas não tem mais lugar na nossa vida, ou elas só se perdem e pronto.

"Já tô indo! Eu não queria ficar mesmo!"

E é estranhamente assim que as coisas funcionam no além mundo das mudanças, as coisas se perdem. Eu estava triste por ter perdido a maioria das minhas lembranças em fotos e diários, uma blusa roxa que nunca mais vi, um cd que devo ter emprestado e não me lembro e talvez eu nunca mais o verei; provavelmente essas coisas foram parar no universo paralelo das liguinhas de cabelo e canetas bic, mas o mais triste é perceber quantos amigos eu perdi, amores nem se fala, isso para não dizer da ingenuidade, das esperanças, dos sonhos (perdidos ou adormecidos?). Não é estranho essa sensação de perder um pouco da gente?

Tem a parte divertida também: a de encontrar aquelas coisas esquecidas até mesmo por São Longuinho. Quantos desenhos antigos eu achei, cartinhas que me escreveram, livros que eu quero muito reler, o pratinho de estimação com o meu nome, coisas que tem o poder de "pause" seguido de "rewind" em nossas vidas, que nos fazem lembrar de quem a gente já foi ou ainda é. Mas você acaba se desfazendo delas, porque ficaram perdidas por tanto tempo que não lhe fazem mais falta ou foram substituídas, isso na maioria das vezes. Sobra só a nostalgia, sempre ela....viver só dela não anda me apetecendo também. Nada de nostalgia nas caixas!