quinta-feira, 18 de junho de 2009

Histórias para não dormir

Hoje foi aniversário do meu avô, aquele tal de seu Rodolfo Carlos Pfrimer, barba de papai noel, branquelão tiposo, 1,92 de pura simpatia, distribuida todas as manhãs pelas ruas anapolinas. Membro antigo da CAF (Clube dos Aposentados Fofoqueiros), está por dentro das mais quentes novidades da cidade e das redondezas.

O fato é que a família reuniu-se para comemorar mais algumas primaveras dessa figuraça que é o pai do meu pai. Comprei para vovô um dvd com três filmes de cowboy - seus preferidos - todos estrelados pelo Clint Westwood, filmes de homem macho. Seus olhinhos até brilharam com o presente, acho que ele gostou.

Conversa vai, conversa vem, pão de queijos a valer e histórias para não dormir. Vovô que é grande contador de "causo", jura que não conta mentira, se gaba de ser apenas criativo, "e acredite quem quiser!". Algumas histórias eu já ouvi mais de uma vez, mas eu gosto de ouvi-lo contar, elas tem sempre um "quê" de originais. Eu tenho as minhas preferidas, como a de quando ele era criança, estudava em um internato e tinha o costume de fazer xixi na cama, as freiras sempre batiam nele por isso, então ele resolveu acabar com o problema e amarrou o "pipiu" com um barbante. Tem aquela em que ele pega dinheiro emprestado com a Santa da Igreja, pegou o dinheiro da caixinha de caridade aos pobres pra comprar pão com salame na venda, ele não julgava estar pecando muito, afinal de contas ele era bem pobre. Ou a de como conheceu a minha avó: trabalhava em uma oficina mecânica e passava todos os dias em frente à janela da casa dela, todo sujo de graxa e com um remendo enorme na camisa (essa parte ele gosta sempre de frisar) sem dizer palavra, só de olho, até que um dia ela disse "O moço não cansa de trabalhar tanto não?" e ele responde (é nessa hora que a entonação de voz denota todo o seu orgulho do feito) "Canso, mas quando vejo uma moça bonita assim o cansaço passa", e foi assim que logo depois de apenas 7 meses de namoro eles se casaram.

Depois dessas, as que eu mais gosto são as da época em que ele era da polícia rodoviária e as histórias da fazenda em que ele nasceu, a São Bento, lá em Alto Paraíso de Goiás, Chapada dos Veadeiros, mas são as que me fazem arrepiar dos pés a cabeça também, mesmo sabendo que pela criatividade do meu avô, muitas tem chance de serem só meias verdades. Como a minha tia avó, irmã dele estava presente e confirmou tudo, tem mais chance de alguma veracidade e já foram suficientes para me deixar bem acordada hoje.

Já aviso logo a quem não puder suportar conviver com uma "assombraçãozinha", ou tiver medo do escuro e de dormir sozinho depois de histórias desse nível, que abandone já essa leitura, eu não me responsabilizo pela noite não dormida. Se você é bravo e quer provar que tem coragem siga em frente e boa insônia.

A história do policial que tinha medo de defunto

Meu avô sempre contou dos horrores que ele já presenciou em rodovias. Acidentes grotescos, com vítimas fatais. Muitos mutilados, degolados, chamuscados, de fato, não deve ser nada fácil ter que vivenciar tais cenas. E tinha esse colega dele, que tinha pânico de defunto, tanto medo que há quem diga que ao cair em um barranco em que um homem havia morrido após o capotamento do carro, ao dar de cara com a vítima (que diz meu avô morreu de língua para fora) ele consegue, contradizendo todas as leis da física, subir o barranco de costas.

O medo dele era tanto que ele não arriscava dormir na cama que tinha lá no posto, (pois era o momento em que ficava sozinho) no seu horário de descanso na madrugada, preferia cochilar sentado, onde os outros policiais trabalhavam. Até que um dia ocorreu um acidente de ônibus, e não sobreviveu quase ninguém. Uma das passageiras que morreu usava uma peruca loira (muito usada em penteados da época pelas mulheres, tendo elas cabelo ou não). Não sei por qual motivo bizarro, os policiais guardaram aquilo no posto. Foi bem na época em que haviam recebido um viajante assustado, que dizia ter dado carona a uma moça loira vestida de noiva, que estava nas proximidades do posto japonês, na BR 153, estrada de Goiânia para Anápolis (sempre suspeitei que aquele lugar era meio assombrado), e durante a viagem, a moça contava que havia fugido do próprio casamento, pede que o moço pare e simplesmente desaparece aos olhos dele.

Em uma bela madrugada em que o sr. medroso dormia sentado, colocaram a peruca nele para sacanear o coitado. Ao acordar e se olhar no espelho o susto foi tanto que ele caiu duro no chão desmaiado. Eu suspeito que ele não durou muito nesse emprego.

A velha do pote de ouro

Comentei com o meu avô que a minha última ida à Fazenda São Bento tinha sido assustadora. Foi logo quando o meu bisavô morreu. A família toda estava reunida lá, e como a fazenda virou pousada, nós não ficamos na casa sede, nós ficamos em uns chalés recém construídos. Depois de todas as histórias assustadoras que meus primos me contaram sobre mulheres arco íris (de branco, vermelho, amarelo, roxo...), pai do mato e extraterrestres, estava eu com uma certa insônia, mas como sou corajosa, fui dormir na cama embaixo da janela. A noite inteira eu ouvi um uivo e batidas ritmadas na madeira ao meu lado. Podia ser o vento, mas parecia uma vaca. E as batidas ritmadas? Eu não tinha explicação para aquilo. Me encolhi o máximo que eu pude embaixo da coberta e estava decidida a não tirar nem o nariz para fora, como se aquilo fosse me salvar.

No dia seguinte a minha irmã e minhas primas comentaram sobre o mesmo barulho, e sobre a mesma "insônia". Estávamos tão amedrontadas que cada uma pensou que o barulho fosse produto da própria imaginação.

O meu avô perguntou onde era o barulho, e eu disse que era perto da jaqueira. Ele fez o que eu temia. Disse que contavam uma história que a muitos e muitos anos atrás, morava uma velha naquela mesma fazenda que certa feita enterrou um pote de ouro, com toda a sua riqueza embaixo daquela árvore para que os salteadores não encontrassem. E desde então passou a vigiar o local, depois de morta continuou a vagar por lá todas as noites protegendo o seu pote de ouro. Há relatos de vários peões sobre essa velha, mas há muitas contradições na descrição da sua aparência. Essa é uma das histórias mais fracas que eu já ouvi. Improvável eu sei, mas mexe com a gente no fundo, no fundo, essas coisas de fazenda velha, e de fazenda e de velha.

O clarão entre os buritis


Meu avô sempre gostou de se embrenhar no meio do mato para caçar pacas (não pra caramba, pacas mesmo, aqueles bichinhos!). Então lá foi ele com um amigo de caça, iriam passar a noite em um lugar que encontraram na mata, cheio de buritis enormes. Penduraram suas redes e um ficou de costas para o outro, a fim de se protegerem durante a vigília. Acabaram dormindo com aquela "divertida" atividade, como era de se esperar. Acordam no meio da madrugada com um estrondo e um clarão, que parecia mais uma bomba, não conseguiam identificar de onde vinha. O amigo do meu avô começou a chorar de medo e o meu avô tentando se fazer de valente, disse que era melhor eles não sairem dali, porque não sabiam o que tinha acontecido (eu acho na verdade é que ele não teve coragem de se mover). Assim que amanheceu voltaram para fazenda e foram contar o acontecido aos peões, que disseram não ter visto ou ouvido nada, mas espalhou-se uma história de que meu avô e seu amigo viram disco voador, fazendo contato imediato com extra-terrestres. Sabem como essas histórias tomam proporções né?
Só mais tarde eles foram descobrir que ali onde eles passaram a noite, existia um antigo cemitério, com algumas covas sem jazigo nem nada. Seriam então fantasmas aquele clarão?

Depois de discutirmos bastante o assunto bolamos uma teoria lógica para os acontecimentos: fogo-fátuo.
Não se desesperem, eu explico. Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, pântanos, brejos, etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente. O fenômeno pode ter ocorrido e na cabecinha do meu avô e seu amigo, tudo foi potencializado pelo medo.

Viu? Padre Quevedo que o diga: "Isto não equixiste!".

A visita

Meu biso sempre foi muito cético, era um homem sério, acho que deve ser coisa de austríaco. Certa vez, quando meu avô era criança, meu biso estava deitado na rede enquanto seus filhos brincavam perto dele, estava escurecendo, mas ele tinha quase certeza que viu um homem sentado em um banco de madeira ali próximo à casa. Então perguntou com aquele sotaque alemão: "Quem está aí? Quem está aí? Quem estaí?" e não obteve resposta, o homem sumiu como que por mágica.

Naquele tempo era comum em Alto Paraíso as chamadas "possessões", então rolava aqueles rituais de exorcismos com direito a voar livros e crucifixos pela janela. Como o meu biso era médico foi chamado a um desses rituais estranhos. Era uma moça muito religiosa, que gritava em latim. Meu biso disse que não acreditava em nada daquilo, eis que a moça diz pra ele em uma voz que não era dela: "Não acredita? Era eu quem fui te visitar na fazenda, e você me chamou três vezes!". Para mim essa, sem dúvida é a história mais escabrosa. Nem quero saber se é verdade, mas meu biso passou a acreditar em certas coisas desde então. Bom, é o que o povo conta.

A dama do bambuzal

É a última prometo. Certa vez o meu avô recebeu na fazenda um caminhoneiro que estava de passagem. Após procurar vaga nas pensões da cidade, optou por ficar na São Bento mesmo, encostar o caminhão ali perto do bambuzal e passar a noite. Assim o fez. De madrugada ele acorda com o barulho do vento, e vê sair de trás dos bambus, uma jovem muito bonita, de pele bem alva. Ele animou-se (assanhado!) e abriu a porta do caminhão para que ela entrasse. Quando a moça entrava lentamente no caminhão, ele só sentiu um vento muito gelado e ela passou por ele como um jato.

O homem começou a gritar por socorro e não conseguia parar de tremer. Tiveram que levá-lo ao hospital, estava em tempo de ter um troço. Depois disso deve ter corrido 1 semana direto, sem nem olhar para trás. Acho bem feito, ele deveria saber que uma moça andando sozinha, saindo de um bambuzal, no meio da madrugada não devia ser coisa corriqueira.


Isso é tudo pessoal. Espero não ter matado vocês de medo, se quiserem dormir no meu quarto tudo bem, agora tem bastante espaço. De qualquer forma, antes de dormir vou olhar embaixo da cama e dentro do guarda-roupa.

Falando no assunto olha que bizarra essa matéria. Fake, mas meeedo!


6 comentários:

  1. E naquele vão do banheiro tb, hem... tranca aquela porta!


    Eu adoro essas histórias. Só não confio nas da época da polícia. Nem seu Rodolfo nem seu Feliciano são muito dignos de confiança... =P

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  2. Ai, cara, como eu amo seu blog. Atóron a tag "Senta Que Lá Vem História"!!! Se bem que esse post eu meiqui titubiei prá começar a ler, que eu sou tipo o Coragem, o Cão Covarde. Mas valeu muito a pena, melhor post ever.


    ;o***

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  3. eu preciso muito marcar uma entrevista com seu vô. ainda não desisti de mapear a história oral de anápolis e região, rs.

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  4. Eu fiquei colada a ler as histórias de seu avô.Verdadeiras algumas mas com muita imaginação outras e sempre com uns pontinhos a mais. Mas gostei muito de verdade estas histórias me encantam.Bjs

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  5. Aii ameeii essas historis. Farei igual vc tambem vou olhar a cama. O guarda roupa nem preisa kkkkk ta cheio de coisa mas vou olhas eu me arrpiei enquanto lia. Eu sou uma dessas pessoas qe gosta de terror mas me arrepio. Amei seu blog. Eu nem conseguia descer a setinha minha mãe tremia como se eu tivesse com frio. Ta me dando calafrio no braçoate as pontinhas do dedo. Vc num acredita se eu falar qe meu cabelo subiu enquanto lia. Como se eu tivesse posto o dedo na tomada. Ameeiiiiiiii seu bloooog. Vou voltar sempre aqui. Victoria...

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    1. Mão kkk foi sem qerer victoria. Eu escrevi errado pq meu teclado ta agarrando e num vai

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