Espanta-se padeiros e outros seres imaginários que vivem embaixo da cama.

Tem um punhado de gente que mora do lado esquerdo do meu peito, sem pagar aluguel, e se bom inquilino, acabam ganhando meu coração por usocapião. Gente que eu considero o suficiente para serem elevados ao posto de irmãos, e eu certamente não estou entrando em questões de fé.

Parece que no quesito irmãos, em especial os de sangue, eu não tenho nada o que reclamar. Você sabe que isso é verdade se conhece que seja um pouquinho os meus. O Biel e a Dina são os melhores presentes que meus pais poderiam me dar e eu vejo neles meus melhores amigos, onde sei que sempre encontrarei um porto seguro e um colo quentinho. 

Somos três mosqueteiros lutando lado a lado, dia a dia, e a causa pouco importa, desde que estejamos juntos. Defendemos os nossos, se preciso mostramos os dentes e por fim sempre acabamos matando ou morrendo de rir. 

O motivo de tanto "mimimi" é a data de hoje. Não sou de despejar sentimentalismo de graça, mas por ser aniversário da Júlia acho que vale a pena cada palavra. Tenho medo de que essa homenagem seja de meia tigela e não alcance a grandeza que minha irmã querida merece. Afinal de contas, ela é especialista em fazer com que as pessoas se sintam tão amadas, seria muita ousadia da minha parte. Mas vamos lá...

Eu arriscaria dizer que ela é cheia de graça. Sim, por que é de uma beleza de causar inveja à Grace Kelly (palavras da nossa tia avó miss) e apesar de nos confundirem sempre e nos perguntarem se somos gêmeas, eu admito que ela é a mais bonita, fazer o quê. Tem uma personalidade forte e um humor digamos que as vezes imprevisível, mas é grande parte do charme dela. 

Ela é engraçada de nascença, sem querer querendo. Eu me lembro quando ela era uma criança prodígio, um pequeno "botaozinho malelo"...tudo bem, ela nunca foi pequena; e emburrava quando precisava comprar sapato e fazer natação, mas no final sempre tinha o colo do papai como consolo. Era um xodó que só. 

Me lembro também que ela nunca deixou que eu tivesse um quarto só pra mim. É que ela tinha medo de um tal padeiro (oi?) que vivia embaixo da cama e volta e meia era comigo que ela vinha dormir, porque provavelmente os padeiros e qualquer outro ser imaginário tivesse medo de mim e ela estaria a salvo.

Ela já nasceu sabendo várias coisas, inclusive andar de bicicleta, mas ela preferia ir a pé empurrando o guidão mesmo, só por estilo próprio. Brincar com ela também era sempre uma aventura. Juntas éramos mágicas, tentando fazer nosso irmão mais novo (leia-se asfixiando) desaparecer em uma caixa de madeira, éramos piratas, detetives ou qualquer outra coisa que provavelmente ia transformar a brincadeira em briga. Fui cúmplice quando ela prendeu a empregada no banheiro (ops dedurei!) e nos esforçávamos bastante em fazer o Gabriel ficar com medo, contando histórias de ET e dançando Enya. 

Tem também as incontáveis vezes que ela tomou as minhas dores. A começar pela época da escola, ninguém mexia nem comigo, nem com o Biel, ou se veriam com a nossa irmã bem maior do que qualquer um dos nossos malfeitores. E todas as vezes que ela me consolou, por muitas vezes chorando comigo a minha dor. Às vezes eu acho que ela é a irmã mais velha, não eu. A maturidade dela é tamanha que os seus conselhos pra mim são lei, não que eu sempre siga, eu sei, mas eu não dou um passo sem pedi-los, que o diga as centenas de mensagens e e-mails que trocamos por dia.

Agora, uma das coisas que eu acho mais incrível nela é aquela gargalhada. Não há mal humor que persista, nem tristeza que vingue ouvindo o som gostoso da gargalhada da Júlia. Acho até que estamos perdendo a oportunidade de enriquecer, engarrafando e vendendo umas boas risadas. Tenho certeza de que seria o fim de vários males do mundo. Você vai concordar comigo, espere só receber uma ligação no meio da madrugada de uma Júlia levemente alcoolizada e quando menos esperar, vai estar sorrindo do outro lado da linha.

Eu só tenho a agradecer por tê-la na minha vida e por ela ser assim tão Dina. O meu amor é dela e a felicidade dela é a minha, como só irmãs gêmeas podem compartilhar. Eu prometo sempre protegê-la do padeiro, não importa quão assustador ele seja...Ah! E também fazer com que a coleção de porquinhos rosas que eu a obrigo fazer seja infinita, isso não tem discussão!

Sempre lembro dos meus irmãos com essa música...