Vaga aqui!

Na minha repartição pública existe uma velha senhora obesa, feia e cheia de espinhas chamada auto-estima. Ela nunca trabalhou direito e eu tenho ouvido reclamações...muitas reclamações. Querem que eu coloque a casa em ordem, faça uma reciclagem através de alguns cursos tipo: "como dizer não em 10 lições fáceis", "Tire o passado do presente - Curso Intensivo" e "Você vencendo as grandes decepções da vida sem traumas".

Para começar, estou demitindo a minha funcionária. Se você conhece alguém competente, capaz de preencher a vaga, pede pra falar comigo, não precisa ter experiência, é só ter força de vontade e ser uma auto-estima de verdade.

Sempre achei um saco essa história de auto-estima acima de qualquer coisa, papo pra gente de baixa auto-estima. Até porquê todo mundo já se sentiu péssimo algum dia na vida ou não se sentiu tão especial quanto os nossos pais nos fizeram acreditar desde pequenos. Eu de fato sempre acreditei que o mundo conspirasse ao meu favor, mas quando as coisas não saem como o esperado não acho que foi falha na conspiração, eu me culpo...sempre! Tsuname, el niño, terremoto, enchente, naufrágio do Titanic....medo de ter parcela de culpa...

Sem falar que quando a estima por si mesmo é demais a gente já duvida é da autenticidade do ser. Eu tenho consciência de que no meu caso, não há crise sobre isso...minha auto-estima não funciona, mas que eu sou autêntica isso é fato e ponto. Acho até que isso é fator positivo pra mim já que eu to tentando construir alguma estima própria.

Na minha auto-tentativa, andei fazendo notas mentais sobre as coisas que fazem eu gostar de ser eu mesma. Dá um orgulho de mim quando eu escuto coisas como: "que saudade da sua gargalhada!" ou me derreter com "a melhor coisa que me aconteceu hoje foi te conhecer..." (ai, ai...voltando a pisar em terra firme), e como eu gosto de me derreter...
Ouvir " o que eu faria se eu não tivesse você por perto?" também é muito bom, é como se sentir única e insubstituível. Uma vez disseram que lembravam de mim quando ouviam Norah Jones, isso me deixou bem envaidecida, como se as canções tivessem sido feitas para mim. Ver 5 chamadas não atendidas em um curto espaço de tempo e ao retornar preocupadíssima escutar do outro lado "Você vai demorar? É que eu queria que você fizesse arroz pra mim!" me tira um sorriso de orelha a orelha! Entrar na discussão seríssima com a minha mãe sobre a novela das 8 (9?) me faz sentir muito especial, é uma demonstração enorme de carinho da parte dela partilhar isso comigo, mesmo sabendo que eu assito a novela uma vez por semana, e só pra fazer companhia a ela (tá! às vezes eu até gosto! pronto falei!) . Sair com as amigas depois do trabalho, comer algo bem calórico, ficar torpe de coca-cola e concordar com elas quando dizem que você é muito mais bonita e interessante que a atual do seu ex (mesmo que elas estejam mentindo porque te amam) é impagável. Falando em torpe, e os momentos "te considero pra garai"? Esses desencadeiam uma elefantíase no ego fabulosa.

Acho que essa dose de auto-ajuda por hoje foi suficiente. Talvez eu faça algumas entrevistas e quem sabe em breve estarei a todo vapor com uma auto-estima nova e eficiente. Posso ir dormir cheia de mim, e quem sabe sonhar comigo mesma. Auto-estima pode ser solitário não é não?