quinta-feira, 5 de março de 2009

Considerações sobre o que eu não entendo, e sobre o que quase ninguém ou ninguém entende

Já ouvi dizer que lá na África as crianças morrem de fome. Deve ser uma sensação de vazio grande, vazio no estômago, vazio na alma. Quando criança, não queria comer, mamãe dizia "sabia que tem um monte de criancinhas que não tem o que comer?" Não entendia porque era eu que tinha que comer se eu não queria, nem entendia porque não eram os menininhos que não tinham o que comer que não comiam a minha comida, como continuo a não entender porque num mundo com tanto alimento, seja realmente possível morrer de fome.

Certa vez ouvi dizer que um senhor morreu de susto. A vida lhe pregou uma peça e de repente o coração parou. Pode parecer masoquista, mas sempre achei gostosa a sensação de susto, na verdade do pós-susto. Os músculos que antes ficaram tensos com o inesperado, relaxam e a adrenalina é descarregada lentamente. Ou seja, o susto é um acontecimento ruim, seguido de uma sensação boa. Talvez o senhor tenha morrido por não saber o que sucede a sensação ruim, não deixou que a sensação boa tomasse conta, ou ele só deixou que tomasse conta...eu nunca vou saber...

Nas guerras ao redor do mundo muitas pessoas morrem de raiva. Alguns animais, como os cachorros por exemplo também morrem de raiva, não necessariamente em guerras, mas eles nada podem fazer quanto a isso, é um mal que lhes acomete e só, causado por um fator externo, uma doença que tem esse nome. A raiva também é um mal que acomente os homens, que nada fazem para impedi-la, é um mal crescente entre gerações, entre raças, etnias e religiões, não deixa de ser uma doença que faz com que os homens ajam como animais, como os cachorros...se bem que não, até os cachorros sabem conviver.

Há quem morra de medo, o que eu não acho muito digno. Medo principalmente do que é novo. Acontece muito em filme de terror, a maioria dos personagens ficam paralisados diante de uma situação de perigo, ou acaba agindo da forma errada, correndo pelo caminho que o leva diretamente ao estripador-mascarado-com-gancho-numa-mão-e-serra-elétrica-na-outra-que-sabe-o-que-você-comeu-no-almoço-passado, no lugar mais escuro possível, e mais distante de qualquer chance de socorro. O meu pai sempre me dizia "o que você tem mais medo na vida, é o que tem mais probabilidade de acontecer", e quer saber? Ele tava certo. Me criou para não ter medo de nada, só de rato que não teve jeito (me apavoro).

Eu sempre pensei que meu bisavô tivesse morrido de amor, ao contrário do que dizem, que foi de ataque cardíaco. A saudade da minha bisa o consumiu, o coração não aguentou de tristeza e se queixou. Foi pesado viver sem ela depois de mais de 50 anos de cumplicidade e respeito mútuos. Eu acho bonito morrer de amor. É um sentimento que eu entendo menos ainda, porque dizem que o amor constrói (dizem também que ele é cego, e que é fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente, um contentamento descontente...é, dizem muitas coisas sobre ele...), quando não há mais o que ser constuído (ou quando a gente pensa que não há), a vida se esvai? Não deveria ser assim, morrer de amor, com toda a beleza que há nisso, deveria ser só licença poética.

E Morrer é ter de dizer adeus. Benditos aqueles que sabem dizer adeus. Nunca é fácil de ser dito e deveria ser proibido. Na França é proibido batizar um porco de Napoleão, em Ottawa é proibido beber gelado aos domingos na rua do banco, no México é proibido queimar bonecas, porque não haveria proibição para adeus? Quem não se despede deixa subentendido que há um "até mais ver", é que eu sempre tive problemas com o "nunca mais", eu com certeza não sei dizer adeus.

para o meu amigo Ricardo que nessa terça-feira, dia 03.03.09, não se despediu...saudades já!

5 comentários:

  1. Dizer adeus é difícil, mas é bom e abre espaço pra coisas novas. Não ache que deveria ser proibido (como na frança é proibido chamar um porco de Napoelão se eles são porcos e vários se chamam Napoleao?). Existem coisas que têm que ir embora, e o ato de dizer adeus a elas é maior do que só apagá-las da sua vida, consiste em mante-las numa coexistencia saudável com as outras memórias, mas longe. Elas tem que ir embora, o acumulo não é bom, melhor mesmo é manter só o necessário e o que a gente consegue manejar...

    Pra que escrever tanto e tão bonitamente pra terminar com Leandro e Leonardo? Nao nega que é de Anapolis, né?

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  2. Segunda tentativa...
    outra coisa que não entendo é sempre que tento deixar comentário d[a erro na página...
    mas enfim, concordo sobre adeus, por isso um até breve!
    =o*

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  3. a Paola falou tudo tão direitinho, que nem me arrisco a dar mais palpite.


    Mas Leandro e Leonardo foi de amargar!!
    hohohoh


    a gente sabe que o Ricardo tá melhor, né?
    =***

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  4. Pois eu faço coro eterno à Leandro e Leonardo: nunca aprendi a dizer adeus. E acho que nunca vou aprender. Lindo, lindo texto MESMO.

    ;o**

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  5. Texto bom pacas, sou outro que tambem não sabe dizer adeus, no maximo até mais.

    Só nunca entendi o bagulho das crianças que morrem de fome, se eu comesse minha comida isso de algum modo acabaria com a fome delas?

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